sábado, 18 de junho de 2011

Cultura Cinematográfica - O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus

O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus é um filme de Terry Gilliam por natureza. Quem conhece o diretor americano, que fez parte do grupo inglês Monty Python, já está acostumado aos delírios visuais do cara. No próprio grupo ele era o responsável pelas seqüências de animação totalmente loucas. Partindo dos filmes do Monty Python, passando por Brazil - O Filme, As Aventuras do Barão de Munchausen (este com um visual muito parecido com o O Mundo Imaginário...), Os 12 Macacos e Os Irmãos Grimm (este um dos mais normais e ainda assim com efeitos especiais de tirar o fôlego) chegamos a O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus.

 Doutor Parnassus

Já podemos considerar os filmes que se passam na cabeça dos outros um "sub-gênero". Alguns diretores já se aventuraram por estes meandros, como Spike Jonze em Quero Ser John Malkovich e Adaptação, Michel Gondry com Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança (Detalhe que: todos estes saíram da imaginação de um cara totalmente louco que é o Charlie Kaufman). Este ano um filme deste "sub-gênero" foi indicado ao Oscar: A Origem.


Vamos ao filme. Começando na Inglaterra dos dias atuais, encontramos uma trupe mambembe, liderada pelo imortal e milenar Dr. Parnassus (Christopher Plummer), que tem o poder de levar pessoas através de um espelho mágico a suas imaginações mais escondidas. O poder que ele possui foi adquirido através de um pacto com o diabo (Nick, aqui interpretado por Tom Waits), que volta agora para pegar o seu pagamento: a alma da filha do Doutor que está para completar 16 anos. As coisas não vão muito bem para eles.Até que eles encontram um cara pendurado (enforcado) em uma ponte. É Tony Shepherd (Heath Ledger em seu último papel antes de morrer). Não sabemos muito sobre ele, mas ele se mostra muito sedutor, carismático, mas com grandes problemas com a máfia russa.

Percebemos no filme uma crítica muito grande à sociedade consumista dos dias de hoje, às celebridades, quando ele mostra a filha do Dr. Parnassus totalmente envolvida com uma revista e sua imagem de família ideal. Outra idéia recorrente no filme é a luta entre o bem e o mal (Dr. Parnassus X Nick). Vemos o tempo todo as apostas que os dois fazem entre si e como, mesmo sendo o diabo, o Nick sabe que não pode viver sem o Dr. Parnassus.

O roteiro não é lá muito surpreendente, mas o que conta no filme é o visual com todos os aspectos e características do Terry Gilliam. A cada vez que entramos no espelho e entramos no Imaginário de cada pessoa nos surpreendemos com o que encontramos lá, pois cada um tem um imaginário diferente e ficamos imaginando como seria o nosso imaginário lá dentro.

Quanto às atuações, tudo bem, elas não são o ponto forte do filme (afinal de contas, com um visual como este - indicado a melhor Direção de Arte & Cenários e melhor Figurino no Oscar - fica difícil. Apesar do Próprio Gilliam ter conseguido com Os 12 Macacos com Brad Pitt e Bruce Willis). Temos os dois contrapontos: Christopher Plummer e Tom Waits, maravilhosos e os três suportes para eles, Lily Cole como a filha (simples), Andrew Garfield (que será o novo Homem-Aranha, mas muito apagado no filme) e Verne Troyer (Austin Powers, Harry Potter e O Grinch) como o anão que serve de veia cômica ao filme e ao mesmo tempo traz todos à realidade quando necessário.

Mas todos querem saber mesmo é de Heath Ledger. Claro que ele sobra no filme. O diretor afirmou que metade dos diálogos cômicos do filme foram improvisados pelo ator nas gravações. Mas ele morreu no meio das gravações e três amigos de Ledger (Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell) se propuseram a terminar o filme. É incrível como o filme não deixa buracos, pois os três aparecem em cenas muito bem inseridas e completamente dentro do contexto de substituição de Heath Ledger. Em certos momentos notamos que eles fizeram até mesmo os trejeitos de Heath Ledger, o que deixa tudo ainda mais legal. Os três doaram o cachê para a filha do ator que ficou sem parte na herança, pois quando ele morreu o testamento ainda não a incluía.

Porta de entrada para o Imaginário do Dr. Parnassus

Não posso falar muita coisa sobre a vida dele, mas não posso deixar de notar que, depois de fazer um papel emocionalmente perturbador como o Coringa ele se envolver num projeto como este não foi uma boa idéia, já que o filme fala de morte, pactos com o diabo e afins. Não que eu diga que isso leva as pessoas à morte, mas... Acontece...

É isso! Assistam porque vale a pena!

Ricard Wolney

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