Um blockbuster sobre Guerra Fria |
A nossa maratona do Oscar 2016 começa em grande estilo com
um dos melhores filmes de 2015, Ponte dos Espiões. Dirigido e produzido por
Steven Spielberg, o drama baseado em fatos reais tem como pano de fundo a
Guerra Fria e o já “batido” tema EUA x URSS. Mas não se deixe enganar, pois o
filme, nem de longe, é ufanista ou exalta o militarismo e o patriotismo norte
americano. Pelo contrário, há um claro esforço em retratar os dois “fronts” da
guerra.
Abel e Donovan - URSS x EUA |
O “artista do filme”, como diz o meu pai se referindo ao
protagonista, é um antigo parceiro de Spielberg, Tom Hanks (O resgate do soldado Ryan, Prenda-me se for capaz e
O terminal). Ele está impecável na pele do advogado James B. Donovan,
que em 1957 é designado para defender o espião russo, capturado em Nova York,
Rudolf Abel. Abel é interpretado pelo inglês Mark Rylance e acaba sendo o ponto
de equilíbrio da trama. A partir daí, vemos um Donovan (Tom Hanks) dedicado a
defesa de seu cliente e trabalhando aparentemente contra toda a opinião pública
e as instâncias de direito dos EUA, pois todos querem “a cabeça” de Abel.
James Donovan, um cara consciente de sua missão |
O jogo vira e o filme dá uma guinada quando um piloto e um
estudante americano são capturados no lado soviético. Então Donovan, que ganhara
notoriedade defendendo o espião russo, é encarregado de fazer a troca dos
prisioneiros, e o pior, sem o suporte de uma missão diplomática oficial. Aí
fica evidente o grande debate da trama, que é a defesa dos direitos humanos e a
capacidade de enxergar no inimigo um semelhante. Aliás, aí está também a
genialidade de Spielberg, que explorou um tema político e humanista, como em
Cavalo de Guerra e Lincoln, mas de maneira diferente, pois não coloca Donovan
como o “mocinho” habitual, mas apenas como um cara decente e sagaz, que não
abre mão de sua missão e é capaz de transitar bem pelos dois lados da guerra.
Vale lembrar que o roteiro também é assinado pelos irmãos
Coen. O próprio Spielberg atribui a eles a profundidade dos diálogos e dos
personagens e todo o toque de ironia e de humor sarcástico do filme, pois há um
evidente desencanto com o sistema corrupto e imoral da época.
Belíssima cena com neve em Berlim Oriental |
Quanto ao aspecto técnico, podemos dizer que a obra é muito bem
construída. Não temos cenas eletrizantes de ação, muitos efeitos especiais, movimentos
de câmera inovadores, mas em compensação temos emoções e suspense capturados em
fina harmonia e uma construção visual perfeita e que dá identidade ao projeto
do filme. Ponte dos Espiões é belíssimo, com um excelente enredo, elementos
visuais muito bem trabalhados e um roteiro impecável. Não é à toa que concorre em
outras quatro categorias além da principal.
Vale a pipoca, sim!! Mas não leva Melhor Filme, não! Brigaria pelo pódio, se houvesse um!!!
Vale a pipoca, sim!! Mas não leva Melhor Filme, não! Brigaria pelo pódio, se houvesse um!!!
Por Thiago Sales